24.5.11

A rua é do Rio... mas fica lá em São Paulo!

Um passeio pela charmosa Rua Rio de Janeiro, localizada na capital vizinha

Rua Rio de Janeiro, em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo: prédios simpáticos dos anos 40 e 50 fazem parte do circuito

Para mim é impossível ir à cidade de São Paulo e não visitar, pelo menos por um pouquinho de tempo, as belíssimas ruas do bairro de Higienópolis, no centro da capital. A região destoa de todo aquele estereótipo de largas avenidas e prédios ultramodernos ostentado por São Paulo; pelo contrário, é um bairro pra lá de familiar, pequeno e com o melhor da "antiga" arquitetura. Uma mistura do bairro do Flamengo nos áureos tempos com a porteña Recoleta, em Buenos Aires. Agradabilíssimo. Parte das ruas de Higienópolis recebe o nome de estados brasileiros... foi aí que me deparei com a Rua Rio de Janeiro. Mesmo estando em São Paulo, não deixa de ser uma rua do Rio! (Ha!)

Edifício Barão de Loreto:
imóvel aí custa em média
R$ 1.244.389,13
A Rua Rio de Janeiro é constituída por edifícios de diferentes estilos arquitetônicos, embora muito iguais em charme. Mesmo os mais modernos, que são poucos, refletem toda a pompa ostentada por Higienópolis, berço da aristocracia paulistana. Árvores e pequenos canteiros ficam dispostos ao longo das muito bem niveladas calçadas, em intervalos bem definidos. Em alguns trechos, parte da calçada perde seu cimento para dar espaço a blocos de gramado que felizmente não portavam cocôs de cachorro. Uma observação interessante, não só dessa rua, mas como de muitas em São Paulo, é que elas contam com cestos metálicos de lixo em frente de cada imóvel. Ao invés daquelas sacolas azuis empilhadas no chão, acompanhadas de entulhos dispensados por nós, cidadãos, busca-se um critério pela organização da coleta do lixo, mesmo que não seja seletiva.

A Rua Rio de Janeiro nos arredores da Rua Pernambuco

Distanciando ainda mais da figura do típico-caótico trânsito paulistano, a Rua Rio de Janeiro é bem calminha, podendo-se até caminhar pela sua via se houver cuidado. Mas quase ninguém faz isso! Pareceu-me que o limite calçada-rua era bem respeitado, ainda mais naquela fria manhã de domingo ensolarado. Deve ser hábito comum dos moradores de Higienópolis caminharem e correrem pelas alamedas do bairro nos fins de semana. Pelo menos ao longo da Rua Rio de Janeiro, muitos iam-e-vinham devidamente agasalhados (mesmo!) em seus trajes de ginástica. Na falta de um calçadão, Higienópolis conta com o Parque Buenos Aires, bem próximo da Rua Rio de Janeiro, que acaba transformando-se em uma expansão deste através da Rua Piauí.

Horizonte sem prédios:
zona alta
Um dos grandes baratos de Higienópolis - e especialmente da Rua Rio de Janeiro - é por estar em uma parte bastante alta. Aliás, é bom reiterar que as ruas de São Paulo são formadas por altos e baixos, ladeiras por todos os lados. Como alguns prédios foram construídos no centro do terreno, ou, em outros, a entrada para garagem se dá pela lateral, tem-se uma bela vista do horizonte, bem azul, justamente porque ali é a parte alta. Aproximando-se, é possível avistar casas e prédios ao longe e em nível inferior, que é a região do bairro do Pacaembu, onde está o estádio de mesmo nome. O desnível entre as ruas pode ainda ser constatado pela Praça Esther Mesquita, que é quase uma espécie de "barranco" arborizado, separando a Rio de Janeiro da Rua Engenheiro Edgar Egídio de Sousa. O acesso entre os dois logradouros se dá por uma íngreme escadaria. 

 Praça Esther Mesquita, no final da Rua Rio de Janeiro: pausa para o descanso

Consideraria a parte mais agradável da Rua Rio de Janeiro o seu final, no encontro com a Avenida Higienópolis e a Rua Conselheiro Brotero. É ali onde a parte "utilizável" da Praça Esther Mesquita se encontra, cheia de mesinhas e cadeiras oferecidas, provavelmente, pela barraquinha de frutas. Bem ao lado, só que mais isolado, diversos aparelhos públicos de ginástica, destes novos, verdes, que a Prefeitura anda colocando em pontos estratégicos, mesmo aqui no Rio. É ali onde babás, em seus branquíssimos uniformes, remexiam seus sorridentes bebês nos respectivos carrinhos. A banca de jornal parece atender não só aos moradores da área, mas a quem quisesse parar por ali para ler uma revista ou jornal. Até água de côco estavam tomando! Bom... Parabéns para a Rua Rio de Janeiro... apesar de estar em São Paulo, ela bem que conseguiu fazer jus ao seu nome! 

 Rua Rio de Janeiro com Avenida Higienópolis. Observe que a sinalização das ruas ocorre de duas formas: na parte inferior, para pedestres, e na superior, para motoristas.

Veja mais fotos da Rua Rio de Janeiro, em São Paulo:

11.5.11

Panoramas Rápidos (15) | Avenida Bartolomeu Mitre

Bartolomé Mitre foi presidente da Argentina no século XIX, mas está imortalizado na avenida do Leblon que leva o seu nome, aqui no Rio de Janeiro. Principal conectora do Leblon ao bairro da Gávea, a Avenida Bartolomeu Mitre - é chamada assim, com o U e sem o acento grave - aparece acima em um dia de feriado, com trânsito bem mais calmo do que o normal.

4.5.11

Enquanto isso, perto da Saens Peña...

... o antigo externato do Colégio São José tem vivido às moscas, literalmente. O belíssimo edifício, localizado à Rua Barão de Mesquita 164,  conta com 2 000 metros quadrados. Está abandonado há algumas décadas e ninguém se interessou em reocupá-lo. Sua calçada está loteada de lixo, sujeira e entulhos. Na hora do rush, diversas kombis (piratas, quem sabe...) fazem uso do espaço em frente ao ex-colégio para embarque e desembarque de passageiros. Porém, agora parece que o antigo São José poderá ganhar um final feliz: há poucas semanas, afixaram um imenso cartaz de "ALUGA-SE" na sua fachada. Perfil de ocupação? Centros culturais, colégios, universidades. Isenção de IPTU. Implora-se pela sua recuperação!

 O antigo externato do Colégio São José, na Barão de Mesquita: desativado na década de 1990, para, em troca, inaugurar uma filial nas imediações da Barra e do Recreio.

Após quase duas décadas sem sinal de vida, a corretora Imovel-On parece ter-lhe oferecido um caminho para a salvação. 

 Observe a sujeira ao redor do colégio. Observe, também, como pequenos detalhes vão sendo substituídos por verdadeiras aberrações: o indicador original do número do imóvel (164), quase não aparece mais, destacando-se uma folha de papel impressa em Times New Roman.

Em tempo: o externato do tradicional Colégio São José, que manteve sua filial na Usina, é citado em um trecho do livro Agosto, de Rubem Fonseca. O  romance, uma mistura de ficção com realidade, ambientado na década de 50, em uma das partes da narrativa  conta que Carlos Lacerda estaria dando uma espécie de audição pública dentro do colégio, enquanto alguns meliantes tramavam um dos possíveis ataques ao jornalista e ex-governador do lado de fora.

Só de ter uma referência desse porte, vê-se que o externato do São José foi (e deveria continuar sendo) muito tradicional e relevante. Apreço histórico suficiente para o seu resgate. Os tijucanos agradeceriam!

2.5.11

O centenário da Praça Saens Peña

 A Praça Saens Peña, na Tijuca, comemorou aniversário no último sábado (30/04) com uma bela exposição ao ar livre de fotos antigas do local

Uma das praças mais famosas da cidade do Rio comemorou seu centenário no último sábado, dia 30 de abril: a Praça Saens Peña. Em geral, a comemoração de aniversário de determinados logradouros nunca geram tanta repercussão fora dos bairros onde estão. Desta vez, com a praça tijucana, o negócio foi diferente - ganhou até caderno especial de 70 páginas do Jornal O Globo, com fotos antigas, análise arquitetônica, entrevista com antigos moradores, entre outras matérias compactas, embora não menos interessantes. 

Painel junto ao lago
Pode-se dizer que a Praça Saens Peña é um dos lugares da cidade que mais sofreu decadência em função do crescimento da insegurança urbana nas últimas décadas do último século. De lugar elegante, com as melhores e mais bem refrigeradas salas de cinema do Rio, a praça hoje virou mais um local de passagem do que de passeio. Os cinemas - entre eles, o Olinda, Metro-Tijuca, Carioca e América - transformaram-se em grandes lojas de departamentos, ou até mesmo em lojas daquelas mais populares. Restaurantes quase não se vêem mais, tornando o comércio bastante repetitivo: farmácias de um lado, óticas do outro. Por um lado, isso atrai a turma da terceira idade à Saens Peña, aos montes por lá, os principais consumidores deste trecho da Tijuca; por outro, sem opções de lazer noturno, a praça vira mais um lugar para camelôs, mendigos e baixa circulação de pedestres.

 Os pedestres param para admirar a antiga imagem dos antigos cinemas da praça. Na primeira foto, moça fotografa o interior do art-déco Cinema Carioca - hoje uma igreja; ao lado, o refrigeradíssimo Metro-Tijuca, prédio ocupado pela C&A atualmente.

Existe um movimento formado pela Associação Comercial e Industrial (ACIT) do bairro de promover a revitalização da Praça Saens Peña. Inclusive, cheguei a ter contato direto com os participantes do projeto, embora, por agora, eu esteja desatualizado em relação a como têm avançado o alcance dos objetivos. E acho também que foi graças à essa sinergia de resgate da memória da Tijuca como bairro tradicional do Rio, importante do ponto de vista cultural, que foi possível obter essa singela repercussão do centenário da Praça Saens Peña. 

 Pai e filha observam os peixes do tradicional lago da Saens Peña, enquanto a radialista Jussara Carioca apresentava seu programa ao vivo da praça para a Rádio Globo, ao fundo.

A construção do metrô
parece ter sido um caos, na
época. (Imagem reproduzida)
Quem teve a oportunidade de passar por lá, no sábado, deleitou-se com diversos painéis espalhados ao redor do lago da praça com imagens antigas da região. Como grande interessado em registros históricos da cidade do Rio, fiquei surpreendido com a quantidade de imagens raras e ampliadas, nunca antes vistas por mim. A mais curiosa é a que mostra a vista aérea da praça no dia da inauguração do metrô, em 1982. A Conde de Bonfim lotada e a praça, linda, sem grades e revestida por pedras portuguesas. Outro painel mostrava o saguão lotado do belíssimo Cinema Carioca, todo em art-déco, na esquina da Rua das Flores (oficial Major Ávila, no trecho). O cinema foi desativado no ano 2000 e desde então é, infelizmente, ocupado por uma igreja. 

A Rádio Globo parece ter sido uma das patrocinadoras do evento naquele sábado de manhã. A radialista Jussara Carioca, mais conhecida como a Juju, da Rádio Globo, apresentava seu programa diretamente da praça, rodeada de senhorinhas e senhores que ganhavam brindes nas brincadeiras promovidas pelo programa. Uma cena rara foi a quantidade de pessoas fotografando a praça, mais limpa e bem policiada. Senti também que os painéis provocavam um certo ar de nostalgia por quem os admirava. Não era difícil encontrar alguém suspirando pelo fechamento do cinema preferido ou do Café Palheta e da Sorveteria Tijuca.

 Um dos painéis mais interessantes mostra o cartaz promocional do governo Chagas Freitas para a inauguração das três estações tijucanas do metrô, em 1982: Afonso Pena, São Francisco Xavier e Saens Peña. 

 Enquanto a Conde de Bonfim segue com seu ritmo habitualmente frenético, dois senhores, tranquilíssimos, continuavam a divertir-se com as cartas. Ao lado, mais um ângulo do lago da praça.

O trânsito na Conde de Bonfim
O post de hoje pode ter sido um pouco puxa-saco, afinal, tijucano que se preza, como eu, quer sempre ver o bem do bairro em que vive. A questão é que, de fato, a Tijuca guarda muita história, que veio sendo severamente maltratada ao longo dos anos. Prédios e casas belíssimas sofreram a intervenção de gente mal entendida no assunto para puros fins lucrativos; lojas bastante tradicionais, que representavam muito bem o dia-a-dia do tijucano, foram para o beleléu; os cinemas de rua, coitados, não conseguiram competir com o conforto dos shopping centers. Preciso procurar a fonte de onde li isso, mas, na década de 60, um apartamento na Rua Homem de Melo, poderia custar o mesmo que um na Nascimento Silva, em Ipanema, o que mostra o quanto o bairro decaiu em função da violência, entre outros inevitáveis problemas econômicos que assolou a sociedade brasileira.



 Dois outros visuais típicos da Praça Saens Peña - a movimentada Rua General Roca, que hospeda uma das entradas para a estação do metrô. 

 A Tijuca foi tão 'particularmente particular', se me permitem a expressão, que impressiona a quem mora e/ou visita pela sua descaracterização. Acho que um projeto de revitalização da Praça Saens Peña, como o que tem sido promovido pela ACIT, pode ser fundamental para o resgate, não só cultural, mas de identidade de uma região que continua tendo muito potencial e localização estratégica. Os índices imobiliários não me negam. De qualquer forma, espero que a Saens Peña tenha a mesma sorte que a Lapa teve em sua recuperação, assim como a Zona Portuária terá, entre outros exemplos aí pela cidade.


Conde de Bonfim: a rua com cara de avenida que margeia a Praça Saens Peña.