25.4.11

Avenida Rainha Elisabeth: a rua que é pomposa até no nome

Na Avenida Rainha Elisabeth, tudo é pomposo: desde o seu nome até os edifícios e casas levantados por lá, incluindo aí a sua nobre localização, entre Copacabana e Ipanema, bem pertinho do Arpoador, na Zona Sul da cidade. Vale lembrar que ela é do início ao fim protegida pela orla - começa na Praia de Copacabana terminando na de Ipanema. Privilegiada, não?

Mapa da rua fotografada e o seu entorno, na Zona Sul do Rio

Mas não só de pompa ela vive. A Rainha Elisabeth (a avenida, e não a rainha!) também provoca sensações de alívio no dia-a-dia, principalmente para quem se direciona para Ipanema e Leblon nos dias úteis, bem na hora do rush. Tudo bem que com o BRS da Barata Ribeiro e Raul Pompéia o trânsito vem melhorando na região, o que não impediu de apagar da memória o sufoco que era pegar todo o caos da Barata Ribeiro às seis e tanta da tarde e o alívio provocado ao ver o seu ônibus (ou carro) conseguir entrar à direita, na Rainha Elisabeth. Significa "escape", "reestruturação da paciência", "fim do estresse", entre outras formas de expressão.

O cruzamento com a Raul Pompéia
Tanto é uma avenida de passagem entre duas regiões que muitos nem percebem com detalhes os seus monumentais edifícios e jardins. Até porque muitos pedestres preferem fazer a conexão Copa-Ipanema através da Rua Francisco Otaviano, restando à Avenida Rainha Elisabeth o fluxo de automóveis e moradores. Não exatamente só de moradores; por ali circulam muitos gringos, arrastando suas malas pelas calçadas de pedras portuguesas, enquanto outros entram e saem do restaurante Broth, quase na esquina com a Canning, já no território ipanemense. É fácil identificá-los como gringos simplesmente pela quase ausência de cor de pele, se não fosse pelo vermelho do sol. Aliás, os gringos são uma marca de Ipanema. Não há como pensar em Ipanema sem não associá-los. Copacabana hoje é menos "gringa" e mais turística. Isto é, engloba mais turistas de outras áreas do planeta que não sejam loiros-de-olhos-azuis do que a vizinha Ipanema.

Vista lateral do edifício Acary, localizado no Largo do Poeta

O charmoso edifício Oliveira
A Rainha Elisabeth é representantíssima do estilo art déco, entre outros edifícios maravilhosos dos Anos Dourados. Escadarias com corrimão de bronze, portarias luxuosas, mosaicos, venezianas... Encontra-se de tudo do que há de mais simpático na cidade, o que a torna um dos meus logradouros favoritos. O nome dos edifícios são fáceis de serem guardados, pela simplicidade e por, em geral, remeterem à algo histórico: Aquidabã, Piratininga, Rio Verde, Marcio, Itayã... O Acary é meu preferido, enquanto o Oliveira, no número 601, destoa totalmente dos demais. O Guia de Arquitetura Art Déco no Rio de Janeiro, organizado pela Prefeitura (Editora Casa da Palavra, 3ª edição, 2001), descreve:

"Obra singela com características balneárias. Os compartimentos de canto, voltados para 45º para uma hoje encoberta paisagem, sugerem uma intenção de visão ampla do horizonte que só os mirantes proporcionam. (...) Os frágeis guarda-copos das varandas, desprovidas de parapeitos de alvenaria, inspiram-se nos decks e passadiços de arquitetura náutica".

O busto do Rei Alberto
da Bélgica
Na esquina com a Rua Conselheiro Lafayete, o que talvez seja a fronteira entre os dois bairros que hospedam a Avenida Rainha Elisabeth, está um simpático largo. É bem ajardinado, possui uma filial do badalado supermercado Zona Sul, e ainda conta com um busto do Rei Alberto I da Bélgica, que visitou o Rio junto de sua esposa, a Rainha Elisabeth, em 1920. No entanto, a antiga Rua Doutor Pires de Almeida só se transformou em Avenida com o nome da rainha dois anos depois, por decreto do então prefeito Carlos Sampaio (mais informações no blog Rio Curioso). Mesmo homenageando o Rei Alberto, o largo tem como referência é Carlos Drummond de Andrade. O Largo do Poeta foi inaugurado em 1990 e leva, em suas pedras portuguesas, algumas das frases mais célebres do poeta. Só para constar: é ali onde está o luxuoso edifício Acary, como vocês verão nas fotos. 


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Mesmo com toda a pompa, a avenida não consegue fugir dos terríveis cocôs de cachorro. É um mal que amedronta toda a cidade, de norte a sul. É impressionante! Andar por ali requer cuidado com a sola do sapato. Não me esqueço até hoje de uma inteligente placa instalada na pequena Rua Goethe, em Botafogo: "Recolha as fezes do seu cachorro. O animal é ele, não você!". Outra associação bastante original foi a dos moradores do Flamengo, em uma certa ocasião: "Cocô só Chanel". Apesar da bosta espalhada, algo passa a ser mais sufocante do que o citado odor: a vista da praia de Ipanema, com o Morro Dois Irmãos, chegando ao final da Rainha Elisabeth. Ok... Incluo aí também as meninas de biquini que passeiam pela Vieira Souto, em bicicleta ou a pé... Paisagem sufocante... Céus!...

4 comentários:

Professor Pasquale disse...

"Copacabana hoje é menos "gringa" e mais turística. Isto é, engloba mais turistas de outras áreas do planeta que não sejam loiros-de-olhos-azuis do que a vizinha Ipanema." - teoria curiosa essa!

Quanto às frases de cachorro, uma vez penduraram uma placa perto de casa assim: "O melhor amigo do homem é o dono do cão, que limpa o cocô do cachorro no chão"

Anônimo disse...

O blog sempre nos dá uma visão nova - e bela - de lugares onde passamos sempre...

Alcindo Gabriel Francisco disse...

Ótimo Post, Pedro!

O Ed. Acary é também de longe o meu favorito! A Rainha Elizabeth é uma das ruas mais lindas da Zona Sul do Rio, realmente encantadora.

A ligação perfeita entre Copacabana e Ipanema!

leonardo disse...

É linda sim, concordo, mas morar nela é um verdadeiro inferno. Tenho um amigo que morou aí anos e jamais conseguiamos ficar na sala ou nos quartos com as janelas abertas, pois o barulho dos carros e principalmente das centenas de ônibos que trafegam nela é infernal. Isso devido ao trânsito intenso e ao corredor formado pelos prédios altos todos colados um ao outro fazendo com que o barulho subisse apliando-se até o nono andar.