28.2.11

"Avenida Copacabana", por Artur Xexéo

A crônica abaixo fala sobre a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, recentemente na mídia pela implementação do primeiro BRS (Bus Rapid Service) carioca. No entanto, o autor descreve o panorama da mais famosa avenida da Zona Sul nos seus tempos áureos até os dias de hoje. Foi publicada na Revista O Globo de ontem, 27/02/11, e achei a minha cara — e a cara do blog. Vale a pena ler e se deleitar com a antiga "Avenida Copacabana".

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Reprodução do jornal.
"Já vivi muitas alegrias na Avenida Copacabana (ou Avenida Nossa Senhora de Copacabana, para os que não têm muita intimidade com o logradouro). Calma! Juro que esta não é mais uma crônica nostálgica, embora suas primeiras linhas possam dar esta impressão. Calma que o Brasil é nosso! - opa, olha eu aí de novo usando expressões dos tempos de antanho. Vou começar outra vez.

Já vivi muitas alegrias na Avenida Copacabana. Devo escalrecer, para os que insistem em acreditar que cheguei ao Rio na embarcação da Família Real, que não sou do tempo do bonde. No meu tempo, os ônibus elétricos já cruzavam a avenida. Sou do tempo do ônibus elétrico! E, criança, ficava deslumbrado com a quantidade de cinemas que eram abrigados na principal rua do bairro (bem, o bairro é Copacabana, é claro, no Rio de Janeiro, embora o Google me informe que existem outras Avenidas Copacabanas por aí, em Guarapari, na paulista Alphaville e na Ilha Comprida em Cabo Frio): Ricamar, Metro, Art Palácio, Copacabana, Joia, Roxy...

Era a rua chique da cidade com estabelecimentos elegantes, como a Casas Sloper e a Perfumaria Carneiro. Era ali que ficava a filial da Confeitaria Colombo, com o piano acompanhando o almoço dominical no segundo andar. Era a avenida do Teatro Copacabana e de suas comédias perfumadas. Dos mercadinhos Verde, Vermelho e Amarelo. Do Centro Comercial com sua loja Disco do Dia...

Avenida Copacabana, em 1961.*
Não sei quando começou a decadência da avenida. As obras do Rio Cidade certamente não ajudaram a melhorar sua situação. As calçadas de pedra portuguesa substituídas por placas de cimento a tornaram menos atraente. O mesmo projeto urbanístico derrubou as árvores que estavam lá há décadas. O excesso de linhas de ônibus, o comércio de bugigangas orientais, os restaurantes a quilo, o fechamento dos cinemas (o Roxy continua lá, dizem que o Joia vai voltar...), as dezenas de subempregados que distribuem panfletos indicando onde se compra ouro, estes mesmos panfletos jogados no chão logo depois de saírem das mãos dos subempregados...

O fato é que o comércio mais atraente da Zona Sul se deslocou para a Visconde de Pirajá e para a Ataulfo de Paiva, botando Ipanema e Leblon no mapa. Copacabana virou bairro de passagem e, com isso, os momentos de glória da Avenida Copacabana ficaram no passado.

É por isso que estou empolgado com a volta da velha avenida às manchetes. O motivo é nobre. A rua está vivendo um momento de glória com experiências de engenharia do tráfego. Onde mais o carioca pode conhecer o sistema Bus Rapid Service? É verdade que as regras impostas pela prefeitura para trafegar na avenida são tão confusas que, talvez, todos tenhamos que fazer um cursinho antes de arriscar um percurso de carro por ela. De qualquer modo, há muito tempo não se fala tanto da Avenida Copacabana. Ela merece."



ARTUR XEXÉO é jornalista e colunista do Jornal O Globo. A crônica, de sua autoria, foi publicada na Revista  O Globo, parte do jornal, de 27 de fevereiro de 2011. Ele mantém um blog na internet, o http://oglobo.globo.com/cultura/xexeo, contendo, inclusive, a publicação online da crônica.

*Fonte original da foto da Avenida Copacabana, em 61, aqui neste link 

3 comentários:

Felipe Bastos disse...

A Avenida Copacabana tinha que virar enredo de escola de samba. Tem tanta coisa para falar! Uma avenida de contrastes o tempo todo. Adoro Copacabana!

Pedro Paulo Bastos disse...

A Avenida Copacabana é um misto de Times Square do 3º Mundo com Avenida Santa Fe, em Buenos Aires. Tem de tudo!

Rodrigo Gallo disse...

Artur Xexéo vai fazer falta. Vai fazer muita falta