28.2.11

"Avenida Copacabana", por Artur Xexéo

A crônica abaixo fala sobre a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, recentemente na mídia pela implementação do primeiro BRS (Bus Rapid Service) carioca. No entanto, o autor descreve o panorama da mais famosa avenida da Zona Sul nos seus tempos áureos até os dias de hoje. Foi publicada na Revista O Globo de ontem, 27/02/11, e achei a minha cara — e a cara do blog. Vale a pena ler e se deleitar com a antiga "Avenida Copacabana".

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Reprodução do jornal.
"Já vivi muitas alegrias na Avenida Copacabana (ou Avenida Nossa Senhora de Copacabana, para os que não têm muita intimidade com o logradouro). Calma! Juro que esta não é mais uma crônica nostálgica, embora suas primeiras linhas possam dar esta impressão. Calma que o Brasil é nosso! - opa, olha eu aí de novo usando expressões dos tempos de antanho. Vou começar outra vez.

Já vivi muitas alegrias na Avenida Copacabana. Devo escalrecer, para os que insistem em acreditar que cheguei ao Rio na embarcação da Família Real, que não sou do tempo do bonde. No meu tempo, os ônibus elétricos já cruzavam a avenida. Sou do tempo do ônibus elétrico! E, criança, ficava deslumbrado com a quantidade de cinemas que eram abrigados na principal rua do bairro (bem, o bairro é Copacabana, é claro, no Rio de Janeiro, embora o Google me informe que existem outras Avenidas Copacabanas por aí, em Guarapari, na paulista Alphaville e na Ilha Comprida em Cabo Frio): Ricamar, Metro, Art Palácio, Copacabana, Joia, Roxy...

Era a rua chique da cidade com estabelecimentos elegantes, como a Casas Sloper e a Perfumaria Carneiro. Era ali que ficava a filial da Confeitaria Colombo, com o piano acompanhando o almoço dominical no segundo andar. Era a avenida do Teatro Copacabana e de suas comédias perfumadas. Dos mercadinhos Verde, Vermelho e Amarelo. Do Centro Comercial com sua loja Disco do Dia...

Avenida Copacabana, em 1961.*
Não sei quando começou a decadência da avenida. As obras do Rio Cidade certamente não ajudaram a melhorar sua situação. As calçadas de pedra portuguesa substituídas por placas de cimento a tornaram menos atraente. O mesmo projeto urbanístico derrubou as árvores que estavam lá há décadas. O excesso de linhas de ônibus, o comércio de bugigangas orientais, os restaurantes a quilo, o fechamento dos cinemas (o Roxy continua lá, dizem que o Joia vai voltar...), as dezenas de subempregados que distribuem panfletos indicando onde se compra ouro, estes mesmos panfletos jogados no chão logo depois de saírem das mãos dos subempregados...

O fato é que o comércio mais atraente da Zona Sul se deslocou para a Visconde de Pirajá e para a Ataulfo de Paiva, botando Ipanema e Leblon no mapa. Copacabana virou bairro de passagem e, com isso, os momentos de glória da Avenida Copacabana ficaram no passado.

É por isso que estou empolgado com a volta da velha avenida às manchetes. O motivo é nobre. A rua está vivendo um momento de glória com experiências de engenharia do tráfego. Onde mais o carioca pode conhecer o sistema Bus Rapid Service? É verdade que as regras impostas pela prefeitura para trafegar na avenida são tão confusas que, talvez, todos tenhamos que fazer um cursinho antes de arriscar um percurso de carro por ela. De qualquer modo, há muito tempo não se fala tanto da Avenida Copacabana. Ela merece."



ARTUR XEXÉO é jornalista e colunista do Jornal O Globo. A crônica, de sua autoria, foi publicada na Revista  O Globo, parte do jornal, de 27 de fevereiro de 2011. Ele mantém um blog na internet, o http://oglobo.globo.com/cultura/xexeo, contendo, inclusive, a publicação online da crônica.

*Fonte original da foto da Avenida Copacabana, em 61, aqui neste link 

23.2.11

BRS de Copacabana: povo reclamão e amadorismo

Sinto-me desapontado com o BRS de Copacabana, inaugurado no último sábado, dia 19 de fevereiro. Previsto para funcionar 24 horas por dia, análises de campo apontaram "falhas" no sistema, o que vem acarretando em novas mudanças a cada dia que passa sobre o primeiro sistema rápido de ônibus do Rio de Janeiro.

Desde o fim de semana já pipocavam na mídia algumas opiniões de moradores e usuários das linhas de ônibus que circulam pela nova região. Como de praxe, a grande maioria das pessoas já se mostrava pessimista com a implementação do BRS sem nem menos ter esperado para ver como seria o funcionamento no seu primeiro dia útil. E não tiro-lhes a razão: foram tantos projetos e obras públicas mal planejadas e concluídas que é mais do que normal ter um pé atrás com uma intervenção tão grandiosa como é o BRS. Sem falar que tudo isso é uma grande novidade por aqui. Desculpados.

As regras do BRS são claras: a faixa da direita é exclusiva para linhas de ônibus enquanto a da esquerda destina-se a automóveis particulares, táxis, entre outros veículos. Para dobrar em alguma rua à direita, é permitido o uso da faixa exclusiva por apenas um trecho - o suficiente para que a manobra possa ser realizada. Acabou, ponto.

Na segunda-feira, dia 21, a prova de fogo. Dia útil, volta às aulas. Diversos jornalistas reportaram o sucesso do BRS fazendo a comparação entre o tempo percorrido em um ônibus desde o Posto 6, onde inicia a Nossa Senhora de Copacabana, até à Avenida Princesa Isabel, onde termina. De acordo com o jornal O Globo (Editorial Rio, 22/02/11), na segunda-feira da semana passada, o tempo de percurso foi de 22 minutos e 53 segundos, enquanto no dia 21, primeiro dia útil do BRS, o tempo caiu para 16 minutos e 15 segundos, às 11h da manhã. Cronometrado ou não, é óbvio que cruzar Copacabana de ônibus ficou mais rápido e não há nada de mal nisso: o transporte público deve ser prioridade.

Na faixa da esquerda, aconteceu o que já se esperava, que seriam as retenções em vários trechos da avenida por automóveis particulares. E aí começa aquela onda de reclamação: taxistas protestam por não poderem pegar nem andar com passageiros na faixa da direita; motoristas acham um absurdo o que fizeram com a via e afirmam que leva mais tempo para percorrer três quarteirões do que antes; passageiros reclamam porque agora precisam andar mais para pegar o seu coletivo, que já não para mais em todos os pontos; idosos criticam pois agora terão que descer do táxi no lado esquerdo e atravessar a rua para ir para o lado direito, o que pode ser muito perigoso. E muitos etceteras mais.

Não quero desvalorizar as necessidades e limitações físicas/intelectuais das pessoas, mas preciso dizer que às vezes me choca como elas são egoístas e resistentes às (boas) mudanças. A implementação do BRS é um marco na história do sistema de transporte público da cidade. Tendo sido eficiente até agora ou não, representa uma atitude corajosa das autoridades em procurar soluções para o caótico trânsito de Copacabana. Será que ninguém enxerga isso? Por que ao invés de fazer críticas negativas as pessoas não colaboram com a proposta, que pode e deve ser estendida ao resto da cidade?

Foto: Último Segundo.
Uma das questões mais reclamadas foi sobre a distância dos pontos de ônibus, pois eles foram reduzidos ao longo da Avenida Copacabana. Não sei exatamente, mas talvez seja preciso andar até 3 quarteirões para pegar um determinado ônibus. Por que não encarar agora o BRS como uma linha de metrô? Sim, o metrô não para em qualquer lugar. Se você estiver entre as estações Siqueira Campos e Cantagalo, será preciso se dirigir para uma das duas, certo? Porque o metrô não vai parar no meio do caminho... É a mesma coisa: os ônibus agora param em "estações" definidas. Isso dá maior fluidez ao trânsito. Ao invés de parar para pegar uma única pessoa, agora embarcará o triplo em uma próxima parada. Muito mais eficiente.

Diante de algumas correções bem-vindas, como a ativação de um novo ponto de ônibus no Posto 6 e a permissão de tráfego à direita para táxis com passageiros - em São Paulo é assim! -, a Secretaria de Transportes está flexibilizando cada vez mais as regras do BRS. Vale lembrar que a  seletiva agora já não funciona mais por 24 horas, e sim por 15 horas, e em horários especiais nos fins de semana. É preciso que decisões como essas resultem menos do (chato) pressionamento da minoria incomodada e mais, propriamente, de um problema real. Puras modificações baseadas no capricho de não se perder o conforto de alguns daria um tom amador ao projeto, que não é nem um pouco superficial.

Uma vez mais repito que toda melhoria surge através de uma mudança, que também deve partir de nós, cidadãos. Em nenhum momento colaboramos com os "problemas" para que eles melhorem, tampouco pensamos em mudar nossos atos para que haja uma sinergia. O que falta para o BRS dar certo é justamente a mudança de comportamento das pessoas. É respeitar o coletivo, as regras, abrir mão de confortos pequenos em troca dos grandes, participar mais positivamente da cidade. Esse primeiro BRS pode ter sim alguma ou outra falha lá no fundo, mas não cabe à nós apedrejá-lo, e sim ajudá-lo a progredir. Ele faz parte de toda cidade moderna e vai se expandir em breve para outras regiões do Rio como forma de melhorar o nosso já sofrível trânsito. Sejamos mais respeitosos e pacientes com o BRS. A gente pode, sim, se adequar às mudanças - basta sermos menos individualistas.

20.2.11

As novas linhas de ônibus da cidade devido ao BRS

Com a implementação do BRS (Bus Rapid Service - Sistema de Ônibus Rápido) na Avenida Copacabana, houve uma mudança em grande parte dos itinerários que circulavam pela Zona Sul. Veja abaixo a lista das novas linhas de ônibus que surgiram.

Linhas que circulam pelo BRS de Copacabana 

BRS1
124 - Jardim Botânico (Horto) x Central (Via Copacabana) - antiga variação da 125
154 - Central x Ipanema (Via Túnel Santa Bárbara) - antiga variação da 154161 - Lapa x Leblon (Via Jóquei - circular) - antiga 571
162 - Lapa x Leblon (Via Copacabana - circular) - antiga 572

BRS2
441 - Caju x Lido (Via São Cristóvão - circular) - antiga variação da 473
590 - Copacabana x Leme (circular) - antiga variação da 591
445* - Morro do Alemão x Copacabana (Via Túnel Santa Bárbara) - antiga S04
442* - Maré x Copacabana (Via Praça Mauá - circular) - antiga S011
443* - Maré x Leblon (Via Central - circular) - antiga S012
444* - Maré x Copacabana (Via Túnel Santa Bárbara) - antiga S028
* Circulam apenas em horários especiais

BRS3
308 - Central x Barra da Tijuca - antiga 175
314 - Central x Recreio - antiga variação da 175
402 - Engenho da Rainha x Gávea - antiga linha 292, que não circulava na Zona Sul
SP455 - Engenho Novo x Copacabana (Via Aterro) - antiga variação da 455
SPA484 - Bonsucesso x Copacabana - antiga variação da 484
SPB484 - Parque Oswaldo Cruz x Copacabana - antiga variação da 484
403 - Copacabana x Bonsucesso - antiga variação da 484
483 - Penha x Copacabana - antiga variação da 484
404 - Cordovil x Leblon (Via Av. Brasil) - antiga variação da 485
486 - General Osório x Fundão (circular) - antiga variação da 485
354 - Cidade de Deus x Praça XV - antiga variação da 750
360 - Carioca x Recreio - antiga S020

A nova linha 411 (Usina x Prado Júnior) não circula pelo BRS de Copacabana.

 
Linhas que NÃO circulam pelo BRS de Copacabana

Retorno na Av. Prado Júnior, em Copacabana
120 - Central x Prado Júnior
122 - Central x Prado Júnior (Via Praça Tiradentes)
411 - Usina x Prado Júnior - originária da linha 415
454 - Méier x Prado Júnior - originária da linha 455
475 - Méier x Prado Júnior - originária da linha 474
480 - Olaria x Prado Júnior - originária da linha 484

Retorno na Praia de Botafogo
129 - Rodoviária x Praia de Botafogo (Via Santa Bárbara) - originária da linha 127
412 - Usina x Praia de Botafogo (Via Santa Bárbara) - originária da linha 426
420 - Vila Isabel x Praia de Botafogo (Via Santa Bárbara) - originária da linha 432
421 - Vila Isabel x Praia de Botafogo - originária da linha 433
467 - Maracanã x Praia de Botafogo - originária da linha 464
458 - Méier x Praia de Botafogo - originária da linha 456
459 - Abolição x Praia de Botafogo - originária da linha 457
481 - Penha x Praia de Botafogo - originária da linha 481

Retorno no Cemitério São João Batista
423 - Grajaú x Real Grandeza - originária da linha 434
425 - Grajaú x Real Grandeza (via Túnel Santa Bárbara) - originária da linha 435

Retorno na Rua Juquiá, na Gávea
501 - Barra x Gávea

Retorno no CIEP da Gávea
502 - Gávea x Recreio (Via Américas)
504 - Gávea x Piabas (Via Benvindo de Moraes)
505 - Gávea x Recreio

Retorno na Avenida Niemeyer
556 - Rio das Pedras x Leblon

O BRS (Bus Rapid Service) da Avenida Copacabana

O BRS na altura da
Avenida Prado Júnior
A partir deste sábado (19/02) foi inaugurado o primeiro BRS (Bus Rapid Service) carioca, mais especificamente na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, Zona Sul carioca. O BRS consiste no destinamento de duas das quatro faixas da via para o tráfego exclusivo de ônibus, prometendo uma maior fluidez no confuso trânsito do bairro e da própria avenida. Passei por lá ontem e pude ver que a Avenida Copacabana agora dispõe de uma marcação azul como limite entre a faixa dos coletivos, à direita, e a dos automóveis particulares e táxis, à esquerda. Os veículos da esquerda só poderão ocupar a faixa do BRS para dobrar à direita ou entrar em garagens.

Carros enfileirados
Com o BRS, as paradas das linhas de ônibus foram reordenadas ao longo da Avenida Copacabana e subdividida em três grupos: BRS1, BRS2 e BRS3. Cada ponto servirá de embarque e desembarque para linhas de ônibus do seu respectivo grupo. O BRS1 e 2 concentra as linhas do consórcio Intersul, subdividindo o 1 com as linhas que circulam entre o Centro e a Zona Sul, enquanto o 2 responde pelas linhas que circulam dentro da Zona Sul ou que vão para a região da Tijuca, além de linhas extraordinárias, isto é, que transitam apenas em horários específicos. Já o BRS3 agrupa linhas de outros consórcios, tais como Internorte, Transcarioca e Santa Cruz. Vale lembrar que os pontos receberam os nomes das ruas transversais mais próximas. Por exemplo, o ponto na Avenida Copacabana perto da Rua Santa Clara recebeu, obviamente, o nome de Santa Clara e corresponde ao grupo BRS2. Veja abaixo a relação dos novos pontos de ônibus anteriormente explicados no mapa.




Visualizar Pontos BRS em Copacabana em um mapa maior


Oficialização das linhas variantes
Uma das coisas que eu percebi sem a ajuda do folheto recebido algum tempo depois por um funcionário da Prefeitura foi a criação de novas linhas de ônibus. Na verdade, sempre existiram muitas linhas variantes com o mesmo número. Por exemplo, a linha 455 (Méier-Copacabana) tinha uma variante que em vez de sair do Méier partia do Engenho Novo, bairro ao lado. Agora, a linha Engenho Novo-Copacabana foi oficializada e recebe o número de SP455. O mesmo acontece com a linha 473 (São Januário-Lido) que mantinha uma variação Caju-Lido e agora atende pelo número 441 como linha circular.

 Agora as paradas de ônibus são exclusivas para um determinado grupo de coletivos, além de conter guia de itinerários e mapas indicando onde embarcar no ônibus que você queira tomar. No ponto da esquina com a Rua Belfort Roxo pertence aos ônibus do grupo BRS2.

Redução da frota
Os ônibus trazem o adesivo
do grupo ao qual pertencem
Muitas das linhas que até então circulavam por Copacabana foram reduzidas, multiplicando, no entanto, a quantidade de novas linhas de ônibus remanescentes das antigas. Tomaremos como modelo a linha 415, que faz o trajeto Usina - Leblon. Ela foi remanejada em mais uma nova linha, a 411 (Usina - Prado Júnior), que não chega a entrar no circuito do BRS. Aparentemente, parece ter sido uma forma de equilibrar as linhas de ônibus de acordo com a demanda por passageiros em determinado tajeto. Sabe-se que grande parte dos ônibus em Copacabana circulavam vazios; agora, a divisão das linhas mostra-se mais racionalizada, pelo menos ao meu ver. No caso da linha 415, muitos passageiros usam o coletivo entre a Usina e o shopping Rio Sul, ou até os primeiros pontos do bairro de Copacabana. Agora, a linha 411 fará exatamente o trajeto que atende a principal demanda, entrando em Copacabana e retornando pela Avenida Prado Júnior de novo à Tijuca. Mais equilibrado em quantidade, a 415 seguirá seu trajeto até o Leblon normalmente.

Outra mudança drástica para os moradores da Zona Sul é o fim das linhas 571 e 572, que circulavam entre a Glória e o Leblon. Elas agora são as linhas 161 e 162 com o nome de Lapa - Leblon. Na verdade, a 571 e 572 já não paravam mais na Glória há um bom tempo. Saindo da Praia do Flamengo, entravam na Rua do Passeio, Arcos da Lapa, Mém de Sá, retornando na Gomes Freire. A 161 e 162 nada mais são, agora, do que a oficialização deste trajeto.

18.2.11

Jardins chilenos, que também poderiam ser cariocas...

Ao passar por uma rua, praça ou bairro mais degradado, sempre me pergunto que/quais possibilidades estariam mais acessíveis a nós, cidadãos, para melhorar o seu aspecto paisagístico. Pintar aquele muro pichado? Catar o lixo espalhado pelo chão? Recuperar aquele canteiro abandonado? Há muitos etceteras por enumerar.

 Jardim bem cuidado na agitada praia de Reñaca, distrito de Viña del Mar, no Chile. Por lá, gramado e flores são elementos essenciais pelas ruas, seja no lado pobre ou sul das cidades.

Jardim suspenso no
Centro de Santiago
Na viagem que eu fiz ao Chile na última semana fiquei encantado, por exemplo, com os seus jardins. Seja em lugar rico ou mais pobre eles são muito bem preservados, fazem parte do espaço urbano e definitivamente não são agredidos como (infelizmente) acontece no Rio de Janeiro. O Chile ainda é um país agraciado por portar cada espécie de flores mais linda do que a outra. Cores vivas, parecem até artificiais de tão bonitas. Sem falar nos girassóis e margaridas expostas pelas ruas. E ninguém se atreve a arrancá-los!

Jardim suspenso em rua
de Viña del Mar
Dentro desse tópico dos jardins chilenos, um detalhe muito especial de lá são os jardins suspensos. Na verdade, esses jardins suspensos (nomeados por mim desta forma!) são dois ou quatro vasos de flores presos no topo de um poste. Eles estão mais presentes na litorânea Viña Del Mar do que na capital Santiago. Viña, inclusive, é apelidada de cidade jardim por ser arborizada e florida em excesso.

Centro de Santiago com
o Museu Histórico Nacional
Os jardins suspensos contam com flores de cores muito vivas e, em alguns casos, poderiam até se passar por cafonas, pelo seu aspecto quase artificial. Mas não são! Pelo contrário; mostram como um detalhe simples e barato pode ajudar a melhorar o panorama de uma rua feia ou mais cinzenta. Há muitas soluções baratas para a recuperação da auto-estima de um espaço urbano. A jardinagem é uma dessas, acredito veemente nisso. 




 Jardins suspensos em dois momentos - na Plaza de Armas, Centro da capital Santiago, e, à direita, em praça em sector elegante de Viña del Mar.


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9.2.11

Um passeio pelo corredor cultural do Centro

Espremido entre a Candelária e os arredores do mergulhão da Praça 15, essa pequena região se assemelha a uma cidade cenográfica


Placa antiga no também antigo prédio dos correios, na Rua Visconde de Itaboraí
 
Não é sempre que um carioca visita o Centro da cidade a passeio. Há quem vá, sim, mas geralmente é para resolver algum assunto importante ou tomar uma gelada na Lapa, a partir do happy hour. De fato, o Centro seria um deserto de atrações culturais que estimulassem o ir-e-vir das pessoas em dias incomuns se não fosse, por exemplo, o Centro Cultural Banco do Brasil, localizado no início (ou fim, depende da referência) da Avenida Presidente Vargas, bem próximo da Candelária.

Os fundos do CCBB, na
Visconde de Itaboraí
Embrenhando-se pelo jardim em frente ao CCBB, encontramos bem na nossa frente um casarão amarelo bastante charmoso: a Casa França-Brasil, outro centro cultural que abriga sempre exposições interessantes. Ali tem uma ruazinha, a Visconde de Itaboraí, que começa na Rua do Rosário, segue até a Presidente Vargas – onde tem sua continuidade interrompida por esta grande avenida – e prossegue até findar na Praça Barão de Ladário, já no encontro com a Rua Primeiro de Março, outra rua bastante importante do chamado corredor cultural do Centro do Rio. Ficou perdido com um monte de nome de ruas? Não se desespere, foi só um detalhe de uma pessoa que é aficionado por mapas :-) !

No jardim entre a Presidente Vargas e a entrada para a Visconde de Itaboraí, o CCBB e, ao fundo, a Casa França-Brasil. Em estilo neoclássico, foi projetada pelo francês Grandjean de Montigny, com inauguração em 1820.

Casa França-Brasil
Eu mantive meu passeio de fotos no primeiro trecho da Visconde de Itaboraí, entre a Rua do Rosário e os jardins da Casa França-Brasil. Eu tava um pouco com pressa pois, na verdade, eu tinha ido ao Centro assistir a algumas exposições ali por perto e resolvi fotografar essa simpática rua. Não só simpática: ela é histórica e quase cenográfica. Andar pela Visconde de Itaboraí, neste trecho, é ter a impressão de estar caminhando por um lugar definitivamente fora do Rio de Janeiro. Isso porque, por algum motivo feliz, a rua é consideravelmente limpa, bem sinalizada e com edifícios pra lá de charmosos.

Adega do Timão, simpático bar na
esquina com a Travessa do Tinoco.
Em frente, o Centro Cultural
Correios.
Nunca fui prali de noite, mas tenho uns amigos que costumam tomar uma cerveja nesta região pós-expediente. Na própria Visconde de Itaboraí é possível ver um agradável bar, na esquina com a Travessa do Tinoco, instalado em um casario bastante dos antigos. O legal é que é tudo muito bem conservado, conferindo um aspecto de cidade sã. Não que o Rio não seja, mas temos falhado neste aspecto. Na esquina adjacente, um imponente prédio branco, cujo acesso é feito através de uma pequena escadinha de três degraus com corrimão de bronze, faz funcionar o Centro Cultural Correios, com exposições também muito bacanas.

A rua cheira a arte, não só pelos estabelecimentos culturais no entorno, como, também, por ter algumas obras de arte espraiadas ao longo das ruas. Na Visconde, o destaque fica por conta de uma obra de arte exposta bem no seu início, com a Rua do Rosário.

Luminárias clássicas
O grande problema dali é a quantidade de carros que insistem em trafegar, mesmo que o corredor cultural não seja lá assim tão adaptado para automóveis. Não só a Rua Visconde de Itaboraí mas como todas as outras são muito estreitas e dificilmente conseguiriam transitar dois carros numa mesma faixa. Pelo contrário! No dia em que eu estava ali, uma van estacionada à uma das portas de saída do CCBB tentava sair da vaga com muita dificuldade e sob muita pressão, pois impediu a passagem de dois táxis que vinham atrás e aquela buzinada começou. Desagradável. Algumas ruas do Centro deveriam ser exclusivas para pedestres.


Os sobrados da Visc de Itaboraí
 A frequência na Visconde de Itaboraí é predominantemente de transeuntes nem um pouco semelhantes ou pertencentes ao coração financeiro do Centro, como a Avenida Rio Branco e o Castelo, cheio de gente apressada metida em roupas formais. Pelo contrário; como disse anteriormente, se não fosse esse corredor cultural, seria quase raro encontrar pessoas passeando despropositalmente pelo Centro. Por ali circulam jovens e pessoas antenadas, sejam da Zona Norte, Oeste ou Sul, e muitos gringos. Eles andam no seu traje típico de verão carioca: bermuda um pouco acima do joelho, blusa de botão, sandália e uma máquina das boas penduradas no pescoço. Sem esquecer a pele avermelhada do sol. Parecem encantados com esse minipedacinho do Centro cheio de coisa boa pra mostrar. E tem mesmo. Eu mesmo fico observando, olhando que nem bobo e orgulhoso de morar numa cidade onde um Centro é tão multifacetado.

 Avenida Presidente Vargas, com a Casa França-Brasil ao fundo

A tranquilidade vai acabando a medida que se aproxima da Avenida Presidente Vargas. Por ali o trânsito é caótico, principalmente na hora do rush, quando o viaduto que dá acesso direto ao Aterro do Flamengo começa a ter seu fluxo intensificado e o mergulhão da Praça 15 lotado de coletivos. Num calor de 40 graus (sim, esse dia estava bem quente!) esse panorama poderia ser angustiante para os menos pacientes. Imagina, engarrafamento, calor... Conselho? Procure a sua casa de sucos favorita mais próxima e vá tomar um mate gelado daqueles. Caiu redondo pra mim e nem me estressei com o trânsito paulistano. Arte e mate alimentam a alma, hahaha. Um abraço!

A igreja da Candelária, em sépia.

5.2.11

Mais da Rua Professor Valadares, no Grajaú

Vocês se recordam do último mês de dezembro, quando publiquei um especial titulado de "Um jardim botânico pelas ruas do Grajaú" (12/12/10)? A rua, em questão, era a Professor Valadares, que naquele fim de primavera trazia um vasto jardim florescido ao longo de suas calçadas. Até hesitei em falar sobre as espécies por pura falta de conhecimento. Entretanto, na última quinta-feira (03/02), o caderno de bairros da Tijuca, do jornal O Globo, fez uma matéria sobre a mesma rua, dando enfoque justamente ao lado botânico. Foi pedida a ajuda de uma especialista na área, a botânica Renata Suzano do Museu Nacional da UFRJ, além da Fundação Parques e Jardins. A reportagem é de Simone Avellar.

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   "Em meio ao arborizado bairro do Grajaú, uma charmosa ruazinha chama a atenção pela biodiversidade: a Professor Valadares, que vai do alto do Grajaú Country Clube até a Praça Malvino Reis. Por seus 750 metros de extensão, diferentes espécies de plantas dão um ar bucólico à via e tornam a rota - ainda pouco explorada - uma agradável opção de passeio para quem gosta de admirar a Natureza e, ainda de quebra, deseja fugir do calor típico da região.
  A convite do GLOBO-Tijuca, a mestre em botânica pelo Museu Nacional/UFRJ Renata Suzano percorreu todo o trecho e identificou exemplos da variada vegetação presente no logradouro. Renata observou a existência de, pelo menos, 20 espécies distintas, sendo a maioria do tipo exótica (que não é típica do Brasil) e introduzida pelo homem.
   — É um número bastante expressivo se consideramos que estamos falando apenas de uma rua - diz Renata. 



  Por trás de toda a beleza natural da Professor Valadares, está o trabalho de dezenas de engenheiros florestais da Fundação Parques e Jardins (FPJ). São eles os responsáveis pelo planejamento e pela execução de projetos de arborização na cidade.
Segundo o inspetor de arborização da instituição, Flávio Telles, não é todo lugar que comporta a diversidade da via analisada. Uma série de fatores é estudada e levada em consideração na hora do plantio.
  — Cada caso é muito bem pensado. Nada é feito aleatoriamente. Procuramos ver que tipo de vegetação é compatível com cada rua, seja por razões biológicas ou relativas à arquitetura do lugar como, por exemplo, a altura das edificações e as fiações que passam na via. As condições favoráveis na Professor Valadares nos permitiram um trabalho diferenciado — explica.
  O ideal na arborização urbana, para o inspetor da FPJ, é que sejam mescladas plantas de pequeno, médio e grande porte de espécies variadas - diminuindo, assim, o risco de devastação caso determinada vegetação seja contaminada por uma praga. Os aspectos visuais também têm relevância. A preferência é por plantas que deem flores ou que tenham uma bela folhagem.
  Segundo a botânica Renata Suzano, na Professor Valadares, todas essas características foram contempladas - o que justifica variedade de espécies indentificadas por ela. O clima da região (caracterizado por temperatura média de 25ºC, umidade influenciada pela proximidade do Parque Estadual do Grajaú e alta incidência de raios solares) também são fatores que explicam a adaptabilidade das plantas àquela rua.
  Entre os diversos tipos de plantação encontrados no trecho, a figueira-dos-pagodes (última foto à direita) é a mais comum. Esse tipo de vegetação, segundo Renata, é originária da índia e frequente na arborização do Rio. Sua copa espessa proporciona bastante sombra - amenizando a temperatura local —, além de servir de refúgio para a fauna.
  — Por causa da diversidade, o ambiente se torna mais harmonioso e acolhedor. Vale a pena conhecer — aconselha a botânica."

Mais fotos da Rua Professor Valadares através deste link: 
Vale lembrar que as fotos são de propriedade do jornal.

4.2.11

"As cidades somos nós: desenhando a mobilidade do futuro"

Centro Cultural
Correios
A exposição citada no post anterior é realmente demais. Eu fui conhecê-la hoje e recomendo a ida até o Centro Cultural Correios para quem seja ou esteja no Rio de Janeiro. Vale a pena!

"As cidades somos nós: desenhando a mobilidade do futuro" é um programa/projeto do Institute for Transportation and Development Policy - ITDP, tendo sido inaugurada pela primeira vez no Centro de Arquitetura de Nova York com o nome de "Our cities ourselves". A mostra traz proposta de melhorias urbanas e paisagísticas visando a sustentabilidade para diversas cidades ao redor do mundo como Nova York, Budapeste, Jacarta, Cidade do México, Buenos Aires, e, claro, o nosso Rio de Janeiro.

A exposição é dividida em duas salas, onde na primeira dedicou-se somente aos projetos mais detalhados para o Rio. A área de estudo do ITDP foi a Avenida Presidente Vargas, entre a Saara e a Central do Brasil - um dos lugares mais quentes da cidade, por sinal. Muito além das simulações bonitinhas e coloridas, um dos preceitos básicos destes estudos e simulações é o de devolver aos pedestres um espaço cada vez maior de circulação em detrimento dos automóveis, que dominaram gradativamente cada canto das cidades apresentadas. Fica bem explícita a propaganda: use a bicicleta, o triciclo, o skate, o metrô, menos o carro.

 A primeira sala do ambiente é dedicada aos projetos e imagens mais detalhadas sobre a cidade do Rio.

 Simulação da evolução da Avenida Presidente Vargas no que tange à largura das calçadas e dos espaços voltados para o pedestre. Se em 2011 esse espaço é mínimo, a tendência é que em 2030 grande parte da área urbana no entorno da Central e Saara seja nosso e do transporte limpo, e não mais dos automóveis.

Os exemplos são os mais variados. No caso do Rio, a Presidente Vargas poderia ser transformada em um belo bulevar, com gramado, mais árvores e transportes limpos, como veículo leve sobre trilhos. Propõe, inclusive, mudanças radicais para os fundos da Central do Brasil, mais especificamente à Rua Bento Ribeiro. Em cada painel foram expostas imagens atuais com outras simuladas para o ano de 2030, além de um quadro explicativo mostrando as dificuldades e problemas nos dias de hoje e as soluções (criativas) para o futuro. Um outro caso muito interessante foi o da cidade de Guangzhou, na China. O ITDP mostrou uma proposta de reaproveitamento de um antigo viaduto sobre as margens do rio das Pérolas. O viaduto se transformaria em um local de passeio para pedestres e bicicletas, inspirado no "high line" de Nova York.

Quantas pessoas cabem
em um m²?
Outro ponto muito bacana da exposição foi a criação de uma espécie de "dez mandamentos" para a melhoria das condições de vida no espaço urbano. Algumas delas, como "Ande a pé - crie ambientes que privilegiem os pedestres" e "Conecte as quadras - proporcione caminhadas diretas e produtivas, com quadras e edifícios de pequeno porte", ficam expostas em uma parede com imagens em preto e branco de diversas cidades ao redor do mundo - em geral, fotos do cotidiano em alusão ao conteúdo das mensagens. Se olhar para o chão, há um desenho do interior de um ônibus em tamanho real com diversas informações interessantes no formato de bancos. Próximo à porta de entrada, uma sinalização do que representa um metro quadrado e a média de pessoas que ocupam esse espaço em um coletivo em cidades como Nova York e Cidade do México. Para o meu espanto, na capital mexicana um ônibus é considerado cheio há 7 pessoas por m². Eu me inseri no quadrado e pude visualizar que só cabíamos confortavelmente mais duas pessoas, além de mim. Incrível como vivemos mal e porcamente nos grandes centros.

O barato do "As cidades somos nós" é que ela nos mostra que muitos dos projetos apresentados não dependem muito do fator "dinheiro", mas sim de "boa vontade política". As ideias são baratas mas não menos criativas e chamativas. São ideias totalmente modernas, que deveriam ser de interesse geral dos cidadãos. Apesar de saber que muito do que foi apresentado está longe de acontecer, pelo menos aqui no Brasil pois as coisas são "ruins de transa", a exposição provoca uma vontade de participar mais ativamente dessa reestruturação urbana, além de muita imaginação, que pode ser posta em prática, sim.

 Propostas para a Central e seus fundos, que é hoje um dos lugares mais degradados do Centro do Rio.

As Cidades Somos Nós — Desenhando a Mobilidade do Futuro
Onde: Centro Cultural Correios, de 03.02 a 13.03.11
Endereço: Rua Visconde de Itaboraí 20 | Centro | CEP 20010-976
Horário: O Centro Cultural Correios recebe visitantes de terça-feira a domingo, das 12 às 19h. Entrada franca.
Telefone: 0xx21 2253 1580
Site: www.correios.com.br