22.8.10

As "Angélicas" charmosas da Zona Sul (parte 2/2)

LOCALIZAÇÃO das duas
"Angélicas", no mapa
.
Com seis meses de atraso, eu termino a série de dois capítulos sobre as ruas que levam o nome “Angélica” nos arredores da Lagoa Rodrigo de Freitas – Maria Angélica, no Jardim Botânico (25/02/10) e, hoje, a Joana Angélica, em Ipanema. Demorou, mas fui! Antes, aproveitei para curtir um dos primeiros dias de sol da semana para caminhar pela Lagoa, do Humaitá até Ipanema. Que dia agradável! E quanta gente! Chegou um momento em que havia (de verdade!) um engarrafamento de pessoas, bicicletas, velocípedes, todo mundo procurando por um espaçozinho na ciclovia e à passos de formiga.


O PRÉDIO de esquina da 
Av. Epitácio Pessoa 
com a Joana Angélica
Andei, andei, andei e cheguei aonde queria. Atravessei a pista, em frente à Rua Joana Angélica, a homenageada de hoje no As Ruas do Rio. O engraçado é que eu passo com uma certa frequência pelo local – seja em ônibus, carro ou a pé – mas são sempre nas vezes que eu saio no objetivo de trazer as fotos é que eu acabo reparando mais nos detalhes. E quantos detalhes na Joana Angélica! Muitos bons, muitos ruins... Perfeccionista do jeito que sou, aviso logo: a vista da Lagoa é linda, mas... a esquina da Joana com a Epitácio estava meio “esculhambada”. De um lado da calçada, uma casa aparentemente abandonada, com a mureta pichada e um ajardinado de conservação duvidosa. Feito de grama mesmo! Do outro, um prédio moderno, com varandões. Porém, na calçada, uns pedaços de pau e madeira jogados pelo caminho. Decepcionante, mas, por favor, não se desanime: há coisas legais, também! Pô, tamo em Ipanema!

APESAR DO VISTÃO para a Lagoa, o início da Rua Joana Angélica, na Epitácio Pessoa, deixa a desejar: jardins não tão bem cuidados, lixo no chão e uma casa aparentemente abandonada. Na verdade, a mureta pichada, o que me faz pensar que ali está sem uso.


O ESTILO ARQUITETÔNICO dos edifícios residenciais varia ao longo da Joana Angélica, embora muitos deles sejam muito charmosos pela sua simplicidade.

CASA NA Joana com
Barão de Jaguaripe
Mesmo que eu ainda não tenha percorrido a rua toda, eu já posso ir logo dizendo que a Joana Angélica, além de rua comercial da região, também traz seus edifícios residenciais, o que é muito comum na Zona Sul – isto é, a mesma rua ser residencial e comercial. O modelo dos edifícios é um tanto quanto diversificado: conserva desde o aspecto dos prédios de Copacabana – os antigos, com aquelas venezianas – passando por alguns dos anos 80, combinando com edifícios modernosos parecidos com os da Barra da Tijuca e, até mesmo, com algumas poucas casas bastante semelhantes às das ruas mais bucólicas da Tijuca. Árvores? Bastante. Já reiterei muitas vezes nas publicações anteriores que não sei bulhufas sobre botânica, mas a Rua Joana Angélica conserva um dos tipos de árvores favoritas para mim: aquelas onde, nos troncos, saem nascendo flores, de diferentes cores. É realmente lindo.

ESTE É UM dos edifícios ao qual
me refiro no parágrafo ao lado.
Gosto dele, é simpático.
Ainda falando sobre o estilo arquitetônico da rua, a partir do cruzamento com a Alberto de Campos é possível observar a variedade de edifícios. Eles são mais baixos, de no máximo três andares, com um estilo bem anos 50 e 60. Poderia defini-los como uma espécie de prédios sem vocação para serem um, alinhado a um modelo de casas que foram crescendo até se tornarem o que são hoje. Não foi esse o processo, né, haha, mas essa é a minha percepção. São simpáticos, acolhedores e bem característicos das ruas internas de Ipanema. Infelizmente, os marginais não perdoam e picham! Como picham!


O CONTRASTE DAS CORES FORTES dos edifícios antigos com o branco/cinza dos mais novos fica muito interessante, na primeira foto. Ao lado, a butique Twiggy, especializada em roupa de festa, numa casa na esquina da Nascimento Silva.

A CASA ONDE funciona
o Restô Ipanema
 Entre a Barão de Jaguaripe e a Nascimento Silva, uma série de casas aparecem aos nossos olhos. Eu acho fantástico que elas ainda sejam mantidas na rua diante de uma época onde a especulação imobiliária está a mil por hora, ainda mais em Ipanema. Não vou dizer que são casas bem preservadas, na verdade todas têm um estilo muito bonito mas com aspecto decadente – exceto aquelas onde estão instalados estabelecimentos comerciais. Um desse exemplo, por ali, é o bistrô Restô Ipanema, na esquina com a Rua Nascimento Silva. A Twiggy, butique de roupa feminina de festa, também está na mesma esquina, em uma casa. Entretanto, os restaurantes conseguem ainda manter um pouco da aparência original das casas, ao contrário das lojas, que são cheias de vidraças. Em tempo: a Igreja Cristã de Ipanema também fica nesse miolo, em uma casa amarela.


NAS REDONDEZAS da Rua Redentor,
as lojas de decoração estão instaladas
em edifícios espelhados.
Falando em vidraças, o trecho da Joana Angélica entre a Nascimento Silva e a Rua Redentor é cheia de vidraças! Sim, são casas que foram remodeladas para abrigar lojas de decoração – de luxo, diga-se de passagem. Um desses estabelecimentos é o Espaço Orlean, que ocupa um edifício na esquina com a Redentor e é especializada na venda de persianas, cortinas, papéis de parede, pisos e coisas do tipo. Ao lado, o restaurante La Mole, que não é tão caro assim - mas bastante tradicional -, aparece de repente. Olho para o lado par da calçada e vejo mais casas. Uma abandonada, protegida por uma barreira grafitada e um casarão amarelo, bem charmoso, onde funciona uma clínica estética.

ESSE É O TRECHO que eu consideraria mais divertido da Rua Joana Angélica. Não porque tenha algo, de fato, engraçado, mas sim pelo motivo de o espaço urbano estar mais chamativo, menos discreto. As lojas espelhadas, assim como os restaurantes e bares, também mudam o clima da rua.


NAS IMEDIAÇÕES DA Rua Redentor fica esse edifício e a casa - desocupada, pelo visto. 
Gostei mais do prédio, adoro quando são nesse estilo. 


  A PRAÇA Nossa Senhora da Paz  
Sem sombra de dúvidas, o mais legal de passear por certos bairros da Zona Sul, como Ipanema, é que a cada esquina avançada há alguma coisa de diferente para ver. Tudo bem, você pode passar por ali diariamente, ter uma relação intimista com o local, mas olhar para aquele espaço urbano e não sentir aquela surpresinha, que sempre se renova, é mentira. Para amantes de metrópoles, como eu, sim, me surpreendo sempre. Os olhos acostumados com as casinhas, edifícios e sombras das árvores agora enxergam um clarão, ocasionado pela Praça Nossa Senhora da Paz. É tão simpática... E, em partes, os moradores tem razão em temerem por uma estação de metrô ali. Pode reparar que as praças que hoje têm estações são as mais degradadas. E eram praça bonitas! Largo do Machado, Cardeal Arcoverde, Floriano, Saens Peña, General Osório... Resta a súplica ao Estado: conservem a Nossa Senhora da Paz!!

   A PRAÇA NOSSA Senhora da Paz e a esquina com a Rua Barão da Torre, à esquerda.  

 A ENTRADA DA Praça Nossa Senhora da Paz pela Rua Visconde de Pirajá e, ao lado, símbolos marcantes de Ipanema: a Chaika, a Confeitaria Ipanema e o chão colorido no cruzamento.

A JOANA Angélica, com vista
para a Rua Visconde de Pirajá.
O cruzamento com a Visconde de Pirajá, a mais movimentada do bairro, também me traz boas recordações e sensações. Primeiro porque bem ali tá a Chaika, a minha lanchonete favorita no Rio. Ao lado, bem na esquina com a Joana Angélica mesmo, está a Confeitaria Ipanema, que foi ponto de parada no final de muitos blocos de carnavais que cheguei a ir no passado. Hoje em dia, não mais, é tanto perrengue pra tudo – principalmente para voltar pra casa depois – que prefiro bem mais o sossego da minha casa. Mas aonde que eu tava mesmo? Ah... Na Visconde. Pois bem, mecanicamente avançando, no lado ímpar, a Paróquia Nossa Senhora da Paz e, mais adiante, a universidade – e centro cultural – Cândido Mendes. A praia está chegando!
NA QUADRA ENTRE A Visconde e a Prudente de Moraes, estão a Prontoclínica, em uma casa rosa que grita por pintura, e a Universidade Cândido Mendes, com seu centro cultural e o teatro.


NO CRUZAMENTO COM a Prudente de Moraes, o Zazá Bistrô. Ao lado, os prédios da quadríssima.


CHEGANDO NA Avenida Vieira Souto, o movimento fica cada vez maior: meninas lindas de biquini, crianças, avôs e avós, turistas... todos querem curtir a praia no domingão de sol. 


A PRAIA DE Ipanema,
famosa Av. Vieira Souto,
em frente à Joana Angélica.
Cheguei à Rua Prudente de Moraes e visualizei a cena mais carioca do universo: a briga entre quatro flanelinhas. Não briga física, mas aquele bate-boca, que as pessoas param para escutar, com direito às gírias e expressões mais esquisitas, xingamentos esdrúxulos e dicções que dariam muito trabalho a um fonoaudiólogo. Turistas olham para a cena um tanto quanto assustados, curiosos metem a cabeça para fora da janela dos coletivos, as mamães desviam o carrinho dos seus bebês dali... Desagradável. A quadríssima não me pareceu tão melhor que as outras quadras anteriores. Mesmo com a praia cheia e a sua beleza, eu tive a leve impressão de que o Rio de Janeiro está, sim, decadente. Uns bairros mais que outros, é claro, mas percebo que esse mundo de cristal em que a Zona Sul do Rio viveu por muitos anos está se quebrando. De pouquinho em pouquinho... Mesmo assim, Ipanema continua sendo Ipanema, né? Sem comparação. :) Abraços!

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